Mudança de base
Uma questão natural: um vetor é escrito como combinação linear dos vetores de uma certa base, é natural então possamos ter um conjunto de vetores que formem uma outra base a partir da anterior. Ora, se uma base gera vetores e dentre os vetores gerados podemos escolher um conjunto que tambem seja uma base existe uma relação entre os vetores de uma base e outra. Vamos criar uma ferramenta matemática que consiga relacionar as coordenadas de um vetor entre duas bases diferentes.
Em física e em geometria analítica é muito comum mudar o sistema de referência, o que facilita na hora de descrever matematicamente um problema. É importante frisar que, dadas as coordendas de um vetor numa base e em outra, elas podem ser diferentes, mas o vetor continua o mesmo. Por isso a comparação de vetores só faz sentido quando ambos são dados com coordenadas em relação à mesma base.
São dadas as bases [math]\displaystyle{ \mathcal{B} = \{\overrightarrow{e}_x,\overrightarrow{e}_y,\overrightarrow{e}_z\} }[/math] e [math]\displaystyle{ \mathcal{F} = \{\overrightarrow{f}_x,\overrightarrow{f}_y,\overrightarrow{f}_z\} }[/math], sendo:
Se [math]\displaystyle{ \overrightarrow{v} = (x,y,z)_\mathcal{B} }[/math] e [math]\displaystyle{ \overrightarrow{v} = (u,v,w)_\mathcal{F} }[/math], vamos achar a relação entre as coordenadas de [math]\displaystyle{ \overrightarrow{v} }[/math] nas duas bases.
Mas os vetores da base [math]\displaystyle{ \mathcal{F} }[/math] tem suas coordenadas dadas em relação à base [math]\displaystyle{ \mathcal{B} }[/math]. Ora, então podemos escrever:
Colocando os fatores comuns [math]\displaystyle{ \overrightarrow{e}_x }[/math], [math]\displaystyle{ \overrightarrow{e}_y }[/math] e [math]\displaystyle{ \overrightarrow{e}_z }[/math] em evidência:
Agora podemos igualar o vetor [math]\displaystyle{ \overrightarrow{v} }[/math] na base [math]\displaystyle{ \mathcal{B} }[/math] para fazer corresponder as coordenadas na base [math]\displaystyle{ \mathcal{B} }[/math] com as coordenadas na base [math]\displaystyle{ \mathcal{F} }[/math]:
Donde temos o sistema:
que, em forma matricial, pode ser assim escrito:
Onde a matriz da esquerda representa as coordenadas de [math]\displaystyle{ \overrightarrow{v} }[/math] em relação à base [math]\displaystyle{ \mathcal{B} }[/math] e a matriz da direita representa as coordenadas de [math]\displaystyle{ \overrightarrow{v} }[/math] em relação à base [math]\displaystyle{ \mathcal{F} }[/math]. A matriz do meio é chamada de matriz de mudança de base, ou de passagem, ou de transição. Note que as colunas da matriz de mudança de base são formadas pelas coordenadas dos vetores [math]\displaystyle{ \overrightarrow{f}_x }[/math], [math]\displaystyle{ \overrightarrow{f}_y }[/math] e [math]\displaystyle{ \overrightarrow{f}_z }[/math] na base [math]\displaystyle{ \mathcal{B} }[/math].
Numa notação mais compacta:
[math]\displaystyle{ [\overrightarrow{v}]_\mathcal{B} = [M]_{\mathcal{B}\mathcal{F}}[\overrightarrow{v}]_\mathcal{F} }[/math]
Sintetizando a teoria: Dado um vetor numa base A, se quisermos expressar o mesmo vetor numa base B basta multiplicar a matriz com as coordenadas do vetor na base A pela matriz de mudança de base de A para B. Temos tambem o problema inverso, se tivermos as coordenadas do vetor nas bases A e B podemos encontrar a matriz de mudança de base.
A teoria foi desenvolvida para o caso de três dimensões, que é como é ensinado em geometria analítica. Mas pode-se facilmente extender as mesmas matrizes para n dimensões. A parte seguinte da teoria costuma ser ensinada em álgebra linear.
Como os vetores da matriz de mudança de base são linearmente independentes o determinante não é nulo. Isso significa que a matriz é inversível, tal que:
Aplicando a inversa pelo lado esquerdo a ambos os lados da relação entre as matrizes anteriores:
Multiplicar uma matriz pela sua inversa resulta na matriz identidade e multiplicar qualquer matriz pela identidade resulta nela mesma. Se podemos transformar as coordenadas no sentido [math]\displaystyle{ \mathcal{B} \rightarrow \mathcal{F} }[/math] e a matriz de mudança é inversível, então o caminho inverso tambem vale [math]\displaystyle{ \mathcal{F} \rightarrow \mathcal{B} }[/math]:
Consequentemente:
Como a matriz de mudança de base é inversível, se tivermos as coordenadas de um vetor numa base B e a matriz de mudança de A para B, o que precisamos fazer para achar o vetor na base A é inverter a matriz de mudança.